sons do quarto

sexta-feira, outubro 31, 2003

Anabela Duarte Digital Quartet | Festival Número

sexta-feira, 24 de outubro .

chovia muito . uma chuva bem diferente da de ontem à noite . bem mais agradável - menos fria e cinzenta . o tempo demorava a passar, até chegar o momento mais esperado - a concretização de um sonho que era ver Anabela Duarte ao vivo pela primeira vez . confesso que a hora e meia antes do concerto foi sofrível em demasia, excessivamente descontrutivista e aborrecida, com pretensiosismos extremados que, no fundo, não eram nada - nem ruído, sequer . há coisas que só alguns iluminados conseguem aplaudir . a maior parte, por certo, nem percebe porquê . valeu, no entanto, a surpresa do primeiro contacto - molhado - à entrada, e, claro, a companhia . até ao momento da explosão da Voz maiuscula com contornos pop, apoiada num suporte electrónico - e tudo ficou esquecido, desde os concertos cancelados sem aviso prévio à presença de figuras estranhíssimas, com uns seguranças mais para o lado do 'serial killer' e um sinistro individuo de guarda chuva que me ia atropelando a meio dos cinco minutos que consegui aguentar de um concerto de uma banda que tocava no espaço superior - que, por vezes, pareceu-me nervoso e, noutras vezes, esteve bem. no entanto, algumas canções pediam um piano para acompanhar a Voz, para entrarmos, se calhar, também no cabaret . as canções são bonitas, as letras também e ninguém tem a voz da Anabela Duarte . até a chuva serenou - o vento é que não .


URL: anabela duarte digital quartet

quinta-feira, outubro 30, 2003

cais de veludo : outra estação

cais de veludo | outra estação


cais de veludo | outra estação


numa outra estação 6:17

subtilmente 5:00

amargo 4:00

- 2:00




outra estação. ou, singelamente, o recomeço. um passeio com o acidental, distanciados por domingos errantes, cúmplices nos aguaceiros. desafiando o destino, caminhando sobre o pó e o vento, de encontro a uma outra estação. a tal. onde ainda existe tempo para reconstruir o passado, dando-lhe subtis pedaços amargos e doces. e, no fim, os passos fundem-se num sorriso - ao abrir uma nova porta, que até pode ser a mesma de sempre. numa outra estação.



pedidos de discos para : caisdeveludo@bragatel.pt



som do quarto: cais de veludo . subtilmente


URL: cais de veludo .

domingo, outubro 19, 2003

Élena : Present

élena . present


algures entre o post-rock e as melodias pop, surge 'present', o novo disco dos catalães élena, que sucede ao trabalho de estreia 'por el amor de diós', um dos discos que mais me prendeu durante o ano passado, altura em que conheci a banda. às primeiras audições, 'present' dá a ideia clara de dar continuidade a 'por el amor de diós', e será, por certo, um disco que irei continuar a ouvir nos próximos tempos.

som do quarto: élena . keep quiet


quarta-feira, outubro 08, 2003

Festival Número : Programação Musical




Dia 24 Outubro - Centro Português de Design
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¬ LOLLY & THE BRAINS, PT
¬ THE ULTIMATE ARCHITECTS, PT


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Dia 24 Outubro - Gare Marítima de Alcântara
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PROGRAMAÇÃO PRINCIPAL

¬ DERRICK MAY, EUA
¬ POLE, (Mute records), Alemanha
¬ KRISTEEN YOUNG, (N_ records), EUA + o produtor lendário TONY VISCONTI, EUA
¬ STEALING ORCHESTRA, (Zounds), RU
¬ ANIMAL COLLECTIVE, (Fat Cat records), RU
¬ X-WIFE, Portugal


SONIC SCOPE - Programação Grain of Sound
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¬ Kim Cascone, Estados Unidos da América
¬ Alva Noto, Alemanha, (confirmado)
¬ Koji Asano, Japão + João Pinto, Portugal
¬ Anabela Duarte Digital Quartet, Portugal
¬ Two Kinder Men, Portugal
¬ @C + LIA, Portugal
¬ Ernesto Rodrigues + Guilherme Rodrigues + Carlos Santos, Portugal
¬ Unit Why + Undo (vídeo)


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Dia 25 Outubro - Gare Marítima de Alcântara
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PROGRAMAÇÃO PRINCIPAL

¬ KARL BARTHOS|KRAFTWERK, Alemanha, (vocalist of the legendary group)
¬ SENOR COCONUT, Alemanha/Chile
¬ VLADISLAV DELAY, (Mille Plateux)
¬ LAUB, (kitty Yo)
¬ MICRO AUDIO WAVES, Portugal
¬ EXPANDER (SonicDj), Portugal


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¬ SAAFI BROTHERS, Ger
¬ GABRIEL LE MAR, Ger
¬ MICHAELANGELO, PT
¬ NSEKT, PT




palavras: anabela duarte digital quartet, claro


URL: festival número + anabela duarte

Rufus Wainwright

rufus wainwright . want one


comprei o novo disco do rufus wainwright a semana passada, mas ainda não o ouvi. gosto muito do rufus, desde o seu primeiro disco, embora o 'poses', o seu segundo trabalho, me tenha deixado maiores marcas. ainda não li nada sobre o 'want one', nem sequer me preocupei em fazer o seu download no soulseek. arrisquei, tal como fiz em relação ao 'rufus wainwright', em 1998, quando a única referência que tinha era uma crítica do dn+, do nuno galopim. em breve, direi alguma coisa sobre o disco.


som do quarto: in her space . #01


Gripe

pois é, os resquícios da passada semana, em que o clima outonal já se fez sentir, deixaram-me marcas. aproveitei para pegar em dois discos, que me têm feito companhia nos últimos dias: in her space - no body needed e sodastream - looks like russian.


in her space . no body needed


em relação a 'no body needed', longa duração de estreia dos lisboetas in her space, já tinha demonstrado a minha vontade de ouvir o disco com atenção. tenho-o feito e posso dizer que tem sido bem agradável. sendo uma gravação de um concerto ao vivo, de maio de 2002, no 'teatro taborda', ainda com a presença do vocalista stephan terion - que, entretanto, abandonou a banda - fica a nota, bem positiva, que raramente se percebe essa situação, o que é bom.

a banda optou por retirar os aplausos e outros ruídos (a)típicos de uma actuação ao vivo, o que aproxima o trabalho do público que ouve o disco, tornando o registo ainda mais intimista para quem o ouve entre as quatro paredes de uma casa. essa opção, curiosamente, surge um pouco à imagem do que anabela duarte tinha feito, em grande do seu disco 'delito', que também regista uma actuação ao vivo.

as treze faixas que atravessam 'no body needed' são marcados, de forma clara, por um estado nostálgico e depressivo, com as linhas predominantes (guitarra, baixo, bateria) a serem interceptadas, a espaços, por elementos electrónicos que enodam os temas, tornando-os ainda mais hipnóticos.

destaque claro para o tema 7, uma descontrução criativa de "careless whisper", tema original de george michael, em registo voluptuoso e pausado, que transforma uma canção banalíssima num tema aprazível e frágil. a fragilidade e o arrastamento são imagens indissociáveis das restantes faixas, que apesar de repetitivas, dando mesmo a ideia que nunca se muda de tema, conduzem-nos a um estado de tranquilidade e paz interior assinaláveis.

o formato canção, à partida, está distante da linha instrumental, que nos transporta para ambientes delicados, mas aproxima-se com a participação vocal 'yorkeana' de terion, capaz de chegar a registos complicados e inesperados. os radiohead parecem ser também, referência importante e incontornável dos restantes elementos da banda, assim como os sigur rós, ou mesmo, embora mais remotamente, os piano magic.

'no body needed' é um disco que merece ser ouvido com atenção e é, defacto, um excelente companheiro para a última hora do dia, se nos apetecer adormecer serenamente.


sodastream . looks like a russian


música a preto e branco é a melhor forma de definir o conjunto de canções de 'looks like a russian', longa duração de estreia dos australianos sodastream, que surge na sequência do ep 'pratical footwear'.

registo de 2000, junta o duo karl smith (voz e guitarra acústica) e pete cohen (baixo), que reunem, à sua volta, uma plêiade de músicos, que permite a utilização de vários formatos de canção - guitarra, guitarra com contrabaixo, guitarra com trombreta, guitarra com trombeta, contrabaixo e didjeridoo - apesar de ser um disco exclusivamente acústico.

este é um disco que agradará, com toda a certeza, a quem gosta de belle & sebastian - principal referência sonora dos sodastream, sobretudo pelos registos vocais de karl smith muito próximos dos de stuart murdoch -, will oldham ou red house painters.

é um disco delicioso, carregado de melancolia e emoções, de onde destaco 'fitzroy strongman', como imagem sonora do que acabo de dizer. 'able hands', música com que o álbum se inicia, é uma composição tocante, marcadamente triste, que retrata a morte de um amigo chegado, com a trombeta a dar-lhe um toque de arrepio mórbido. 'wedding day', por sua vez, é uma balada emocional, um verdadeiro dilúvio de solidão, com alguns crescendos arrepiantes.

'looks like a russian' é um trabalho intenso, que não cansa, e que apetece ouvir mais e mais vezes, audição após audição.


som do quarto: sodastream . wedding day


URL: in her space + sodastream

quinta-feira, outubro 02, 2003

In Her Space . Demons in Cars

é o tema de apresentação dos in her space, na mais recente compilação da optimus - 'pop up songs'. ouvir 'demons in cars' dá vontade de escutar 'no body needed', disco de estreia do conjunto lisboeta, o reflexo de uma actuação ao vivo no 'teatro taborda'. já o fiz, mas não com a atenção merecida. gostei das duas primeiras audições - e voltarei a pegar no disco em breve. para já, 'demons in cars' faz parte da minha playlist. é um tema com um instrumental hipnótico que me enche as medidas, com a voz de stéphane thirion, num pouco original - mas bem bonito - registo 'yorkeano'.

URL: in her space

quarta-feira, outubro 01, 2003

Mus : El Naval



chegam os primeiros acordes de 'al debalu', canção que marca o exórdio de 'el naval', para perceber o quão belo é o disco do duo asturiano mus, formado por mónica vacas e fran gayo. altamente recomendável é também o visiosamento do vídeo clip de 'al debalu', que a acuarela disponibiliza na sua página. o clip é, no fundo, um excelente retrato do que é o disco - canções sentimentais a preto e branco, que nos falam do interior de nós desde o interior de um espaço fechado, onde o sol entra pela janela, enquanto que o tempo corre lento, entre avanços e recuos, mas cheio de pequenos e deliciosos pormenores, algures entre o amor já feito, a chávena e a cafeteira de café e, de novo, o amor.. agora por fazer.

'al debalu' é uma canção de encatar, com pequenas e cintilantes estrelas nas entrelinhas dos sonhos e dos desejos que se fundem no [duplo] piano de 'al oeste de la divisoria', canção que segue, onde os ruidos acidentais - como o 'fungar' de mónica - nos trazem notícias do fundo a oeste de um nada que é ao mesmo tempo tudo.

segue-se 'sacramento', instrumental contemplativo, com a partipação especial da guitarra de irene tremblay - aroah -, que abre alas para o post-pop de 'embalses y rios', canção mais 'aberta' do disco, apesar da tristeza presente nas palavras, de onde se desta a coesão do instrumental, onde o baixo e a bateria orgânica, confundem-se com um piano, algures, tresloucado. Piano que abre e acompanha 'casería', instrumental enclausurado, com o seu quê de loucura e claustrofobia.

quase sem darmos por isso, chegamos à segunda metade do disco, com 'cuesta', que apesar de uma entrada lenta, entre o folk e um ligeiro travo de bossa-nova, explode rapidamente para um caos instrumental que praticamente afoga, de forma propositada, a voz de mónica vacas. 'cuesta' é uma canção violenta, um retrato catastrofista de um passeio citadino. 'casi ensin zarrara los güeyos', o tema com que o disco prossegue, rompe sonoramente com 'cuesta', abrindo espaço para uma canção pop ambiental, com um cariz marcadamente nocturno e hipnótico, que se afoga no formato acústico - guitarra/voz - e suave de 'quien bien te quier', um autêntico mergulho na intimidade, algures entre respirações, o arrastar dos dedos na mudança de acordes de gayo e a voz sussurrada de mónica vagas. uma pequena fábula que se conclui já com a presença distante do piano num registo delicado.

'rencor', penúltimo tema do disco, é uma canção belíssima, onde se funde o piano com uma caixa de sons que transmite à canção, que fala de sonhos desfeitos, um universo ingénuo - quase infantil - que talvez se tenha perdido, algures entre as mãos. por fim, 'encofraos', canção triste com que 'el naval' se despede, enquanto que o folk e o slow-core se cruzam.

'el naval' é um disco de canções, na sua verdadeira essência, que marcam um ponto de viragem na carreira do duo mus, que nos seus primeiros trabalhos estavam mais virados para a electrónica. uma mudança feliz, num disco que agradará certamente a quem gosta de mazzy star, galaxie 500, ida, hood ou l'altra. o mar está sempre próximo das canções de 'el naval', que desaguam, na minha opinião, num porto seguro e bem tranquilo.


som do quarto: mus . quien bien te quier

palavras: "Por fin, esta mañana ya nun vi'l sol y de madrugada pensé en dexar pasar los díes como'l que ve que mas alló de la piel poco queda que nun seya rabiar y golpiar", Mus

notas: mus, duo de gijón - astúrias, formado por mónica vacas e fran gayo, contou neste disco com a participação dos músicos iván palacios (ex-medication) no baixo, luigi navarro (edwin moses) nas guitarras e frank rudow (manta ray, viva las vegas) na bateria, para além de irene tremblay (aroah) que tocou guitarra acústica em 'sacramento'.


URL: mus

Refree : Quitamiedos



'quitamiedos' é o trabalho de estreia de refree, o alter ego de raúl fernandez, um dos mais importantes músicos do movimento indie espanhol da última década, destacando-se os seus trabalhos nos extintos corn flakes e, actualmente, nos catalães élena, que assinaram o lindíssimo por el amor de diós, em 2001.

apesar de ser um disco a solo, estando desde logo demarcado o cariz livre e individual do trabalho, baseado em composições e letras - extremamente intimistas - da sua autoria, raúl fernandez rodeou-se de amigos, como que redimensionando o seu projecto, já que contou com a colaboração dos músicos de élena - helena maiquel, a belíssima voz principal do conjunto, faz coros no trabalho - para além das participações da francesa françoiz breut (dominique a., que canta num irrepreensível castelhano 'ausiente', uma das mais belas canções do disco), abel hernández (migala) e josé luis aguado (manta ray e viva las vegas), aos que ainda se juntaram alguns dos principais músicos do movimento jazz de barcelona, que dão um toque de 'modern jazz' a algumas composições, com particular destaque para o tema-título do disco.

raúl fernandez, em 'quitamiedos', cruza o experimentalismo acústico de cariz marcadamente melancólico, à imagem de uns dirty three ou friends of dean martinez, com um universo mais folk, de onde nick drake parece assumir-se como principal referência, piscando também o olho a ennio morricone e aos calexico, com um 'spaghetti western' bem vincado, nas suas composições mais desérticas. assim, tendo em conta todos estes itens, juntando o enquadramento geográfico de refree, podemos ver os migala como principal referência para este trabalho a solo de fernandez, que dá largas ao seu multi-instrumentalismo, tocando além das guitarras, xilofone, orgão, melódica e outros instrumentos adicionais, aos quais junta, em alguns temas, a sua lindíssima voz - em castelhano e inglês, como em 'mejor ahora', uma canção encantadora, que o 'nosso' old jerusalem não desdenharia.

'quitamiedos' é um disco com dez canções muito bonitas e intensas, carregadas de tristeza e de saudade, com o seu quê de trágico, com 'demonillo', um belíssimo instrumental, a servir de mote ao trabalho. a já citada 'ausiente' - uma balada nostálgica e desértica -, a solitária e apaixonada 'nadie para mar' e o passeio por uma cidade em ruínas de 'cracovia' são os momentos mais deliciosos de um disco, carregado de beleza e de uma nudez que nos conforta.

este disco não mudou a minha vida, mas não nego que é um dos mais belos e prazerosos trabalhos discográficos que ouvi no último ano. é um álbum que despedaça o medo com a ausência, a solidão, as lágrimas e uma chuva intensa que percorre o espaço desértico que raúl fernandez nos desvenda e oferece. e, como ele um dia disse, sobre este disco: "temos que afastar o medo. o medo pressupõe limites e isso é prejudicial. respeito é o que há que ter". nem mais, raúl. nem mais.


som do quarto: refree . nadie para mar

palavras: "y nos iremos a dormir y estaré feliz de que al menos te tendré aquí y seguiré despierto", Raúl Fernandez


URL: refree